13 de agosto de 2016

Entrevista com João Carlos Pires Uliana



Pensei em fazer uma matéria com João Uliana. Ele, muito ocupado, precisando levar barras de ferro na Ninho Verde, ir em Laranjal comprar uma motosserra, vistoriar as obras na granja… Ofereci-me então para acompanhá-lo, e ele topou. Conversa longa, agradável, cheia de conteúdo franco. Disse-lhe que sou seu fã - e é verdade – e ele recebeu o elogia com bonomia e amicícia. É um grande ser humano, têm suas convicções e sabe delimitar seu espaço. Acredito que no dia em que Tietê conhecer João Uliana fá-lo-á prefeito e ou, no mínimo, líder vitalício. João representa bem o lado bom da bela Cidade Jardim.

Depois de rodarmos a tarde toda, senti estupenda trepidação e, sem pensar em política, perguntei:

- Na última vez que viemos aqui o carro não trepidava tanto. Fizemos outro trajeto ou é o mesmo? A estrada está horrível!

- Estamos fazendo o mesmo caminho. É que choveu demais e a água inundou tudo por duas vezes só este ano. Tá vendo aquela marca de lama no mato lá em cima?… Então, a enchente chegou lá. Tudo isso aqui ficou alagado, água de dar nado. 

João Uliana é pleno e transparente feito água cristalina, seja para concordar, seja para discordar. Quando eu e ele entramos na Ninho Verde, ele me transmitiu, sem abrir a boca ou mesmo falando de outros assuntos, estar tão sobrecarregado quanto Sísifo, diante da crueldade da crise nacional:

- Meu irmão precisou demitir quase um terço dos funcionários.




Pegamos a estrada para Laranjal e começamos a gravar. Li a primeira pergunta, e ele soltou a língua firme e afiada:

- Eu não pensava em ser vereador, prefeito… Nem vontade nem tempo. Haja vista as dificuldades que estou enfrentando para conciliar a campanha e minha vida profissional. A política é difícil de conciliar com qualquer coisa, sobretudo eu que não dependo da política para viver. Nem pretendo depender dela para sustentar minha família e meu padrão de vida. Quero depender do meu trabalho. A política é só um viés para eu ajudar os que precisam. Gosto de ajudar os outros. Talvez tenha herdado isso de meu pai. Tem muitos que entram na política para defender os próprios interesses, o que não é o meu caso. Quero ajudar, mas não são todos que pensam assim.

João Uliana fala com tanta convicção e naturalidade que é mais fácil acreditar numa mentira dele do que na verdade de muitos. Fiz mais uma pergunta. Ele inflou o peito e ergueu a voz:

- É tudo mentira, conversa fiada de quem quer colocar palavras na boca alheia. Não sou contra a Feirinha de artesanato. Sou contra a feirinha dentro do jardim. Os artesãos precisam de uma associação que os profissionalize. A praça é para o povo, e não para qualquer tipo de comércio ambulante. Então se faz uma praça linda, e deixam-na cheia de fios, os chamados gatos, para levar energia aos ambulantes, correndo o risco de eletrocutar as pessoas? Feche-se a Rua do Itaú para venda de artesanato e lazer. Não fecham a Paulista em São Paulo?… Mas fique tranqüilo. Meu pensamento será apenas um em nove, ou seja, em sendo eu eleito, serei apenas um vereador em nove. Não sou nem serei ditador nem vivo numa ditadura.

Antes que eu perguntasse sobre o Fábio Lanches, ele mesmo encarregou-se de falar:

- Esse Fábio é um esperto. Ele quer um comércio no melhor ponto da cidade, sem pagar IPTU, levando vantagem sobre quem paga impostos. Ele sequer se enquadra como ambulante, pois tem emprego fixo. Por que ele pode utilizar a Zona Azul durante 24 horas, sem pagar nada? Todos têm de respeitar a Zona Azul e pagar taxa e impostos, menos Fábio Lanches. Os funcionários dele têm carteira assinada? São maiores ou menores de idade? Vou entrar na Justiça para a Prefeitura ir lá e retirar ele de lá. Pouco me importante se a responsabilidade é da secretaria, da prefeitura ou do prefeito. O Fabio Lanches não é mais do que ninguém.

- Que nota você daria a sua passagem pela administração atual?

- Acho que seria um 8, apesar da grandes dificuldades financceiras. Mas a dificuldade maior é a judicialização de tudo. O juiz, por exemplo, manda comprar um medicamento caríssimo, sendo que a Prefeitura não tem recurso. Bati de frente com muita gente porque todo mundo quer levar seu quinhãozinho de vantagem da Prefeitura. Alguns acham que podem tudo, e não pode tudo. O dinheiro é limitado. As leis são paternalistas e não dão suporte para a Prefeitura prestar um bom serviço, além de alguns líderes estarem mais preocupados com o resultado político do que com os resultados reais de suas ações. Por isso resolvi entrar na política na tentativa de fazer leis que dêem suporte às ações sérias que resultam em benefícios reais para todos.




- Então a atual administração tem algo além de marketing? - perguntei.

- Sim, que se faça marketing sim. Desde que não seja absurdo como a compra de meios de comunicação. Não adianta nada fazer uma administração maravilhosa e não mostrar. Ademais só se faz marketing daquilo que se realiza. A administração atual fez muitas obras escondidas: ruas recapeadas, estações de tratamento de esgoto, a parte escolar… Hoje Tiete tem um projeto educacional, além da restauração e reforma de muitas escolas, creches, escolas rurais. A parte recreativa, todos os brinquedos trocados, postos de Saúde revitalizados, centro odontológico… Tem muita coisa pra mostrar, escolas novas no Altos do Tiete, Santa Maria e Emílio Gardenal. E tem a parte administrativa. É que as pessoas não vêem. Hoje tudo é licitado. Só no primeiro ano em que estive lá fiz mais de 60 licitações. A Santa Casa está com as contas em ordem, atende pessoas de toda região. Brigas de funcionários que deram prejuízos enormes à prefeitura. Um funcionário se embriagou no trabalho, e chamaram os guardas municipais. O gm deu uma gravata no bêbado para contê-lo. Isso resultou em um processo e a Prefeitura foi condenada a pagar 160 mil reais ao funcionário que se embriagou em serviço! 

- Entendo – disse eu; pausa.

- Tem de se votar em quem faz, em quem trabalha pelo coletivo independente de simpatizar ou não com o candidato. Para que trocar o certo pelo incerto? A Santa Casa ia fechar as portas e você vem me dizer que isso não é uma grande conquista? Em que pese uma ou outra reclamação, hoje tem muita gente elogiando a Santa Casa, que devia 20 milhões e agora deve apenas 4 milhões.  

- E sobre o Lago da Serra, por que tanto cenário, tanta propaganda, e nada de concreto acontece?

- Primeira eu queria dizer que tem uma classe política em Tietê, que embora você faça parte dela, é inexpressiva. Nada de concreto conseguem ou conquistam para a cidade. Sem querer desmerecer ninguém, mas que expressão política tem essa gente? Que contato tem com o governador? Esses dias o Alckmin estava aqui perto inaugurando obra, e não tinha ninguém, um vereador sequer, do grupo de vocês. Que contato tem essa gente com políticos para conseguirem benefícios políticos? Uma cidade como Tiete que depende de 70% de recursos externos ao município pode ser administrada por pessoas politicamente inexpressivas? Você já viu uma foto do seu candidato com o governador? Com o presidente, que é tieteense? O prefeito atual é sério, tem o dom de fazer política e, querendo ou não, tem feito política com muita competência.

Fiquei calado, e ele retornou ao assunto Lago da Serra:

- Tenho acompanhado mais distante do que gostaria. Mas você está enganado. A restauração está acontecendo e muito mais depressa do que você imagina. O emissário novo está sendo feito. As pessoas não sabem porque é subterrâneo, está no meio do mato, e as pessoas só acompanham os que os olhos vêem. Da Santa Cruz para cima, até passando o Grupo metal, já está tudo pronto. É uma obra grandiosa, que no tempo do meu pai demorou 4 anos. Foi feita com funcionários da Prefeitura, o que seria impossível hoje. Os tempos eram outros, os materiais eram diferentes, os funcionários e a arrecadação também eram diferentes. Espero que ali se realize um belo projeto paisagístico bem feito e definitivo. Infelizmente demora um pouco, mas está sendo feito, e bem feito! 

- Como você se apresentaria para os eleitores de fora que não conhecem a história da família Uliana?




- Não farei promessa de nada. Apenas apresentarei minha disposição de servir ao município, trabalhar com seriedade, honestidade e fazer política que não se atenha a partido político por força de lei. O que deve contar é o caráter das pessoas e a disposição de fazer a coisa certa. Sou uma pessoa que trabalha muito. Quero entrar na política para construir um legado assim como meu pai construiu. Tenho a preocupação de ser comparado a ele, porque Deus fez meu pai e jogou a forma fora. Mas eu não sou ele, impossível trabalhar como ele trabalhou; os tempos são outros. 

- Para que serve um vereador?

- A gente costuma dizer que não seve pra nada (risos). Sabe aquela picapinha igual a que eu tenho? A turma chama de vereador porque não pega carga pesada nem carrega gente (risos). Serve para fazer e reformular leis. E não para ficar requerendo por que a prefeitura pintou o banco da praça dessa ou daquela cor. 

- O que você pensa do casamento entre pessoas do mesmo sexo?

- Não acho que isso seja um assunto pertinente à Câmara Municipal.

- Um legislador não deve se preocupar com a sexualidade das pessoas? E as políticas públicas, adoção por casais do mesmo sexo…?

- Não sim lógico… Acho que cada um deve ser livre para fazer o que quiser da vida, desde que respeite o direito do outro, que não ofenda o próximo. O direito de um termina quando começa o do próximo. O respeito é a chave, o segredo para tudo na vida: um respeitar o pensamento do outro. A família moderna não se compõe apenas de casal homem e mulher. A configuração é outra, e o que conta mesmo é o caráter das pessoas. As leis mudam, o convívio social muda, e têm de mudar mesmo… Quem não se moderniza fica obsoleto, perdido no passado. E o legislador tem de estar antenado sim, a Justiça tem de estar antenada As mudanças. A cada 20 anos é uma geração nova, tempo suficiente para restaurar as leis, a conduta social. A vida é uma evolução constante e todos têm de modernizar-se. Quem não evolui fica para trás, um dia morre e deixar de existir. Isso vale para tudo: relações pessoais, empresas, funcionários, o pai de família, o presidente, a igreja... E que a sociedade evolua de modo que fique bom e confortável para todo mundo.




- João meu caro você é grande e cheio de conteúdo. O relato abaixo é baseado em uma fala atribuída a seu avô, o grande Zico Pires justamente para ilustrar as mudanças de costumes na sociedade.. Alguém teria perguntado a ele como era o homossexualismo nos anos 20. Ele teria respondido mais ou menos assim: “Não sei. Nunca encontrei ninguém que quisesse dar pra mim. Quando a gente ia casa, quando o rapaz ia se casar, o pai levava-o na casa de uma preta que morava na Beira-rio. Chegando lá, o marido da preta saía de casa. O rapaz, o pai e a preta se trancavam no quarto paupérrimo, despiam-se, e o rapaz ia aprender o que teria de fazer com a noiva na lua-de-mel. Em muitos casos o pai dirigia, ali mesmo na cama rústica, bem dizer um jirau, uma aula prática entre a preta e o mancebo. Uma vez, o pai de um amigo nosso, levou-o para o ritual de aprendizagem e iniciação. Nosso amigo, que era um encapetado, perguntou se podia, por segurança, fazer uma aula prática ali mesmo para que o pai lhe avaliasse o desempenho. O pai que era médico disse não, melhor não, para evitar doenças venéreas. O coitado do pai nem imagina que o filho já havia aprendido tudo sobre sexo transando com um tieteense que era ídolo nacional.

- Obrigado, João. Até a próxima.

- Isso tá fora de contexto...(risos).





















Nenhum comentário:

Pesquisar este blog